Crônica da borboleta cansada por Carla Sousa

Ela só podia estar cansada. Ali, parada no chão. Por pouco não pisei nela. Sou dessas que anda olhando onde pisa para não cair ou pra me elevar com as miudezas que encontro no caminho. E dia desses dei de cara com ela no chão. Pousada. Parecia pesada.

Estou acostumada a vê-la bailando no ar, dançando entre as flores. Seu contraste com o concreto me paralisou. Pausa. Fiquei pensando o que fazer. Registrei o momento. Tentei um diálogo. Em vão. E me veio um poema de Manoel de Barros, que também andava a catar miudezas: “Borboletas me convidaram a elas…”.

Nesse dia, a borboleta pousada no chão me convidou a ela e eu senti o peso das suas asas cansadas. E eu senti o medo de ser pisada. Medo de não mais ser.

Mudei a borboleta de lugar. Peguei pelas asas aquela leveza que parecia nada e pousei o corpinho frágil entre folhas. Talvez fossem seus últimos minutos de vida. Então que fossem ali, entre cores, no contraste da natureza onde se confunde e eleva. Não no concreto chão cinza próprio para passos pesados. Ali, pousada repousou a borboleta cansada que cruzou meu caminho.

Confira a leitura da crônica no meu Canal de Podcast.

2 comentários sobre “Crônica da borboleta cansada por Carla Sousa

Deixe um comentário